No final de fevereiro (23), a prefeitura de Londrina deu um passo importante na busca por construir uma ‘cidade inteligente’, com a parceria entre a Londrina Iluminação e o Lactec.
Tal parceria permitirá o controle das luminárias de ruas, avenidas, praças e parques públicos sem a necessidade de deslocar um profissional para fazer a inspeção do que precisa ser trocado e tampouco esperar que o cidadão entre em contato para informar a queima de uma lâmpada.
Além disso, haverá a possibilidade de utilizar a posteação pública para a instalação de câmeras de segurança, internet wi-fi e até de dispositivos que permitam o controle do fluxo de veículos.
Ótima medida, mas ela não é compatível com a poluição visual causada pelo emaranhado de fios pendurados nos postes.
Uma cidade inteligente...
Uma cidade inteligente é uma área urbana que utiliza tecnologias digitais e soluções inovadoras para melhorar a qualidade de vida de seus habitantes, otimizar a gestão urbana e promover o desenvolvimento sustentável.
.. atrai investimentos e turistas...
O objetivo principal é tornar a cidade mais eficiente, segura, conectada e próspera para todos. Um dos determinantes para esta prosperidade está na capacidade de atração de investimentos e turistas para nossa cidade.
... e não convive com o feio e o desorganizado...
‘À mulher de Cesar não basta ser honesta, tem que parecer honesta’. O mesmo se aplica a uma cidade inteligente, ela tem que embarcar tecnologia, mas precisa mostrar de forma cabal que a utilização desta tecnologia a deixa mais cômoda e bonita.
... como fiação e cabeação expostas.
Um emaranhado de fios que se multiplicam nos postes, instalados sem seguir qualquer padrão mínimo de qualidade e segurança, muitas vezes sem qualquer função, mas deixados esquecidos lá, pendurados ou arrastando pelo asfalto depõe contra esta premissa.
O que queremos...
É preciso uma legislação que determine a necessidade de que toda esta infraestrutura seja remanejada para o subterrâneo. A começar pelas praças e avenidas, e depois para toda a cidade. Projetos novos somente deveriam ser autorizados se já incorporassem a instalação subterrânea da infraestrutura elétrica, de telefonia e internet.
... não é nenhuma excrescência ...
O maior empecilho está nos custos de implantação desta solução, mas estudos como o do IPEA de 2022 (https://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/11058) mostram que os benefícios das redes subterrâneas em relação às redes aéreas são inúmeros, atingindo diversos agentes, que teriam ganhos com esse tipo de infraestrutura.
... e beneficia a todos ...
Este estudo referenciado acima mostra que os benefícios da adoção do enterramento desta infraestrutura beneficiam tanto as empresas de energia elétrica, quanto a comunidade e o meio ambiente e certamente resultará em uma cidade mais humana e atrativa. O investimento inicial criará valor muito maior.
... de forma inteligente.
Pois veja: aumenta consideravelmente a densidade de carga e propicia espaço para todos os operadores; melhora a qualidade dos serviços ao evitar interrupções devido a vento, chuvas, abalroamento de postes; é um inibidor dos furtos de cabeação; elimina a necessidade das podas radicais das árvores e retira a poluição visual causada pela fiação aérea.
Legislação não é novidade ...
Esta solução já é adotada nas principais cidades do mundo e no Brasil não faltam exemplos de municípios que criaram uma legislação neste sentido, como São Paulo, Rio de Janeiro, mas chamo a atenção para a cidade de Porto Alegre que sancionou no ano passado uma lei específica para tal fim.
... e estipula o que, até quando ...
A Lei 13.402 de autoria dos vereadores de lá, estabelece que as redes de infraestrutura de cabeamento para transmissão de energia, de telefonia, e de outros cabeamentos devem ser subterrâneas e definiu o prazo de 15 anos a partir da data de sua publicação para a adequação em toda a cidade.
... e a quem compete a adequação.
Caberá às empresas e concessionárias arcarem com os custos para a substituição, e podem formar consórcios para utilizar a rede de infraestrutura subterrânea para racionalizar o espaço. Os novos loteamentos devem prever fiação subterrânea como condição prévia para aprovação.
São medidas transformadora.
Uma gestão com uma política deliberada de neoindustrialização e de promoção ao turismo, que conte com um legislativo promulgando leis para viabilizar tal propósito certamente tornará nossa cidade mais próspera e resiliente a qualquer tipo de percalço.
Dr. Marcos J. G. Rambalducci, Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.