Em decisão unânime, o Banco Central optou, na última quarta-feira (11), em elevar os juros para 12,25%, sinalizando que novas altas de mesma magnitude já estão em seu radar.
O setor produtivo, com razão, preocupa-se com tal medida, que inibe investimentos, eleva custos, retrai a demanda e torna insustentável o crescimento econômico e a geração de empregos e renda.
Os menos afeitos à economia já esgotaram o estoque de agulhas no boneco de vudu de Campos Neto, enquanto o governo tenta expiar seus pecados sacrificando o mercado.
Atribuir a culpa ao BC ou ao ‘famigerado’ mercado é desviar o foco das verdadeiras raízes do problema e entender esta origem é que abre espaço para encontrar soluções.
O mercado, esse ‘famigerado’ ...
Sem ser um ator político ou moral, o mercado é simplesmente um mecanismo de interação econômica que reflete as decisões de milhões de agentes - consumidores, empresas, investidores e governo e opera com base em incentivos e informações, ajustando preços, recursos e investimentos para equilibrar oferta e demanda.
... só busca eficiência econômica...
É nesse ambiente que consumidores buscam maximizar sua satisfação, empresas perseguem lucro por meio da eficiência e inovação, e investidores alocam recursos em busca de retornos. Acusar o mercado de estar 'contra o país' é inadequado e desconectado da realidade econômica.
... e responde ao ambiente ...
Quando o mercado reage negativamente, isso reflete preocupações legítimas com fatores como inflação, dívida pública, instabilidade política ou medidas econômicas consideradas ineficientes e rotular este movimento como uma ‘conspiração das elites’ contra o país não faz sentido.
... embora não seja perfeito.
O mercado é eficiente na alocação de recursos, mas está longe de ser perfeito e, sem controle, tende sim a ser distorcido por interesses individuais e corporativos, mas não no ambiente macro. Portanto é mais produtivo focar nas causas das reações negativas e ajustar políticas para restaurar a confiança.
Não culpe o BC ...
Mirar no Banco Central também é improdutivo, na medida que ele é somente o instrumento técnico que utiliza as ferramentas de que dispõe para cumprir a metas de inflação estabelecidas pelo próprio governo, e vai se valer das taxas de juros para reequilibrar a demanda com a capacidade de produção.
... pela sanha devoradora ...
E vale lembrar que o que é produzido é consumido: a) pelas famílias, b) pelas empresas e c) pelo governo - e se um deles pegar uma fatia maior do bolo, alguém precisará comer menos. Acontece que alguém está abocanhando uma fatia maior deste bolo.
... que desestabiliza a economia ...
Se não dá para fazer o bolo crescer na mesma velocidade com que é consumido, vai ter disputa e essa disputa sobe o preço de cada fatia. Para tirar um pouco do apetite dessa gente o BC aumenta os juros, desestimulando o consumo e atingindo especialmente as famílias e as empresas.
... e obriga a elevar os juros.
Fica claro que o BC responde ao um estímulo e não é o agente causador do problema. Um olhar no aumento do endividamento do governo deixa claro que é ele que está se apropriando de uma fatia maior do bolo, obrigando as duas outras partes: família e empresas, a reduzir o consumo.
Identificado o responsável ...
Quando o governo adota uma política de aumento de gastos públicos por meio de déficits fiscais e as medidas que se propõe a adotar são pouco factíveis e mesmo insuficientes, o resultado é a descrença do mercado e a necessidade de juros em ascensão.
... e inspirado no passado ...
Lembro bem quando supermercados eram fechados ao som do hino nacional e as remarcações constantes de preços eram atribuídas a especuladores e comerciantes, enquanto a verdadeira causa estava no financiamento do déficit público por meio da emissão excessiva de moeda, promovido pelo governo.
... cabe ao governo assumir e agir.
Temos sim a menor taxa de desemprego dos últimos anos (6,2%), consequências de um crescimento do PIB acima do esperado (previsão de 3,4%) e não é intenção tirar o brilho destes resultados, mas apontar o quão fundamental é uma ação enérgica por parte do governo para que esses numeros possam se repetir nos próximos ciclos.
Marcos J. G. Rambalducci - Economista, Professor da UTFPR.