A importância da participação da força feminina no mercado de trabalho foi se evidenciando ao longo da história moderna, notadamente quando elas precisaram assumir a produção durante períodos de guerra.
A medida que as mulheres galgam postos na hierarquia das empresas fica patente que trazem pontos de vista diferentes que contribuem para a inovação e o crescimento econômico e as decisões tendem a ser mais equitativas e bem fundamentadas.
A despeito da inegável importância da participação feminina no mercado de trabalho, em nosso país, os homens recebem salários 22% maiores que as mulheres em mesmas funções, sofrem assédios no trabalho e enfrentam maior taxa de desemprego.
O empenho em estudar este tema, deu a americana Claudia Goldin, professora de Harvard o Prêmio Nobel de Economia de 2023.
Não é fenômeno brasileiro ...
Cerca de 2,4 bilhões de mulheres em idade ativa não têm oportunidades econômicas iguais às dos homens e 178 países mantêm barreiras legais que impedem sua participação econômica plena, segundo o relatório ‘Mulheres, Empresas e o Direito’ de 2022, do Banco Mundial.
... aponta o Banco Mundial ...
O estudo que fundamentou este Relatório investigou oito indicadores acerca das mulheres em suas vidas e carreiras: mobilidade, ambiente de trabalho, salário, casamento, parentalidade, iniciativas empreendedoras, propriedade e benefícios previdenciários em 190 países.
... que estima os ganhos da igualdade.
Concluiu que houve sim significativo avanço nas últimas 5 décadas, mas ainda longe do ideal e estima que a eliminação da desigualdade de gênero no mercado de trabalho poderia aumentar o PIB per capita em 20% no longo prazo.
Os estudos de Goldin...
A economista norte-americana Claudia Goldin enfrentou a complexidade deste tema reunindo mais de 200 anos de dados em uma obra que capta as razões das desigualdades de gênero no mundo profissional, o que a levou, na semana passada (9), a ser reconhecida com o Prêmio Nobel de Economia de 2023.
... revelam o peso da maternidade ...
A natureza atribuiu à mulher a responsabilidade pela concepção e gestação de novas vidas e tal responsabilidade torna as mulheres menos disponíveis e, segundo Goldin, por esta razão acabam recebendo menos de seus empregadores e tendo suas carreiras atrasadas.
... e seus reflexos na carreira...
Em suas pesquisas, Goldin identificou que a diferença salarial entre homens e mulheres aumenta de forma mais significativa após o nascimento do primeiro filho, e que esse evento também muda como elas guiam suas carreiras.
... ao preparar a nova geração.
Há a tendência de quem é mãe de reduzir sua jornada de trabalho, tirar licença após o nascimento dos filhos ou mudar para empregos com menos demanda e maior flexibilidade, o que acarreta o aumento da disparidade salarial entre os gêneros, que sobre de 8% para 27% depois da chegada do primeiro filho.
A conclusão da pesquisa ...
Devido à importância dada pelos empregadores à disponibilidade para o trabalho, aqueles que possuem essa flexibilidade são remunerados de forma desproporcional em relação àqueles que não conseguem trabalhar fora do horário comercial.
... revela as causas da disparidade ...
Os homens estão desproporcionalmente disponíveis para encarar longas jornadas no trabalho, ao passo que as mulheres estão desproporcionalmente disponíveis para se dedicar a tarefas do lar, afirma Goldin, o que vai implicar no comprometimento da carreira para a mulher.
..., mas embarca também a solução...
A profunda diferença salarial é decorrência da necessidade que tem as mulheres de optar por trabalhos mais flexíveis dentro da profissão.
... com o compartilhamento do casal ...
É preciso a formulação de políticas ou medidas que facilitem uma divisão mais equitativa das responsabilidades entre os membros de um casal, não imputando à mulher o quinhão mais pesado.
... e a flexibilização do trabalho.
E é premente repensar as estruturas de carreira e as horas de trabalho e implementar práticas que não penalizem, mas valorizem a flexibilidade, mesmo porque não nos falta tecnologia para tal.
Dr. Marcos J. G. Rambalducci, Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.