Como escrevi na coluna passada (11), Londrina deve encerrar 2023 com um PIB a preços correntes na casa dos R$ 31,5 bilhões, significando crescimento de 3,28% ou 15,7% mais que a média brasileira.
Esta projeção utiliza como base as medianas das expectativas de mercado contidas no Relatório Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central e a comparação da evolução do emprego formal no Brasil e em Londrina.
E na semana passada (15) o IBGE divulgou o PIB de 2021 dos municípios brasileiros, mostrando que nossa cidade totalizou R$ 23,6 bilhões na soma de bens e serviços produzidos daquele ano, colocando Londrina na 50ª posição do ranking das maiores cidades do país neste quesito.
Um olhar mais atento sobre os dados divulgados permite trazer algumas considerações interessantes.
Londrina entre as maiores ...
No ranking das maiores economias do Brasil o Paraná emplaca 8 cidades. Liderado pela capital e seguido por São Jose dos Pinhais, Araucária, Londrina, Maringá, Ponta Grossa, Foz do Iguaçu e Cascavel, o que é mais que Santa Catarina e Rio Grande do Sul juntos, que tem 7 municípios na lista.
..., quando analisado o PIB total ...
Essa classificação leva em conta o PIB total de cada município. Mas outra comparação interessante é quanto a participação da atividade industrial na composição deste PIB. E por pouco Londrina não fica fora da lista dos 100 maiores municípios do país.
..., mas em participação da indústria...
São José dos Pinhais ocupa a posição 45 na lista dos maiores PIBs e a posição 44 em atividade industrial. Araucária em 46º em relação ao PIB total ocupa a 18ª posição em atividade industrial, Ponta Grossa na posição 69 em relação ao PIB total é a 56ª em participação da industrial.
..., é insuficiente.
Londrina que em termos de PIB total ocupa a 50ª posição, quando a ordem de classificação considera a participação da atividade industrial, sua colocação cai para a 97ª posição, mostrando que a soma do que produzimos está calcado enormemente na prestação de serviços.
Isto pode ser um problema ...
A pergunta natural seria: mas e qual é o problema de sermos bons em serviços e não tão bons em manufatura? Fato é que durante toda minha graduação e por muito tempo depois a ideia vigente era que tudo se resumiria a ‘serviços’.
... ao nos tornar reféns da situação local ...
Hoje temos claro que a dependência do setor de serviços cria uma vulnerabilidade muito grande e deixa a economia refém das condições locais. Se por algum motivo a demanda local cai rapidamente, todo o setor produtivo focado em serviços, despenca. Basta vez o que fez a pandemia neste segmento da atividade econômica.
... o que é contornado pela manufatura...
Sem discorrer muito sobre a importância da indústria, basta lembrar que um software, talvez a mais elegante produção do setor de serviços, só tem valor se estiver embarcado em um hardware. Sem a indústria a produzir o computador, não existe sentido em um programa computacional.
... que atinge mercados de fora.
E a indústria produz muito mais para mercados de fora que para consumo local, e permite que a produção seja direcionada para mercados que estão demandando, o que é muito difícil para o setor de serviços que depende de entregar o que produz para um consumidor que esteja presente. Não dá para tratar de uma cárie sem que o paciente esteja na cadeira.
A participação da indústria melhorou ...
Utilizando os dados de 2020 e 2021, a impressão que se tem é que nossa cidade foi impactada por um processo industrial sem precedentes, pois a participação da indústria saltou de uma média de 17,6% do PIB nos 5 anos anteriores para 20,1 e 21,2% respectivamente.
..., mas devagar com o andor ...
Esta evolução é resultado da queda significativa que teve o setor de serviços nestes dois anos analisados. Como a indústria sofreu menos e se recuperou de forma mais rápida que o setor de serviços, a composição percentual da indústria automaticamente aumentou.
... que não foi tanto assim.
Estamos evoluindo sim em termos de industrialização. Nos últimos 3 anos o número de empregados da indústria vem crescendo de forma bem mais acentuada que os empregados de serviços.
É uma ótima sinalização, mas ainda estamos distantes de encontrar o equilíbrio necessário que torne nossa economia menos dependente das condições locais.
Dr. Marcos J. G. Rambalducci, Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.