Na última segunda-feira (14), o Prêmio Nobel de Economia foi concedido a Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson por suas pesquisas sobre as raízes da desigualdade econômica entre as nações, com foco especial nas ex-colônias europeias.
Brasil e Estados Unidos, apesar de partilharem características como dimensões territoriais e diversidade cultural, apresentam uma disparidade econômica acentuada. Enquanto o PIB norte-americano é dez vezes maior, a desigualdade de renda no Brasil é quase o dobro da dos EUA.
Os autores do Nobel de Economia de 2024 atribuem a disparidade econômica entre Brasil e Estados Unidos a diferenças históricas e institucionais profundas. Chamo a atenção para o livro ‘Por que as Nações fracassam’ de Acemoglu e Robinson, (2012).
A geografia não explica a desigualdade...
Acemoglu e Robinson, em sua obra, refutam a noção de que o clima determina a riqueza de um país, desmistificando a antiga ideia de que países quentes seriam intrinsecamente pobres.
... e tampouco a hipótese cultural...
Ao desmistificar a ideia de que fatores culturais, como a ética protestante, determinam o sucesso econômico, os autores mostram que a desigualdade mundial é resultado de um conjunto mais complexo de fatores, que vão além dos valores e das crenças.
... ou a ignorância dos líderes...
Ao questionarem a hipótese de que a ignorância dos líderes é a principal causa da pobreza, Acemoglu e Robinson demonstram que a simples correção de falhas de mercado não garante o desenvolvimento econômico, desmentindo a ideia de que a pobreza é causada pela ignorância dos líderes.
..., mas sim as instituições políticas...
Países pobres são pobres porque aqueles que têm o poder fazem escolhas que criam pobreza. Eles escolhem o caminho errado não por ignorância, mas de propósito. É no estudo e resolução da política e dos processos políticos que depende a prosperidade de um país.
... que remontam ao período colonial.
Os autores destacam que o tipo de colonização deixou um legado duradouro nas instituições, influenciando diretamente o desenvolvimento econômico e social de cada nação. Eles caracterizam dois processos de colonização: extrativista e de povoamento.
Diferenças entre a colonização extrativista...
Centrada na exploração de recursos naturais e mão de obra, estabeleceu instituições centralizadas e pouco democráticas. Priorizando o lucro imediato da metrópole, excluiu a população local das decisões políticas e econômicas, perpetuando a desigualdade, a concentração de renda e a dependência econômica.
... e a colonização de povoamento ...
visava estabelecer novas sociedades, incentivando a imigração e a criação de instituições mais inclusivas. Essa abordagem, ao promover a participação popular e o desenvolvimento econômico local, favoreceu o crescimento, a inovação e uma distribuição de renda mais equitativa.
... deu origem às instituições políticas...
A tese central de Acemoglu e Robinson em ‘Por Que as Nações Fracassam’ é que as instituições políticas, moldadas historicamente, são o principal determinante do sucesso ou fracasso de uma nação.
... que definem ricos e pobres.
As diferenças nas instituições criadas durante a colonização explicam por que os Estados Unidos (ex-colônia de povoamento, prosperou economicamente, o Brasil (ex-colônia extrativista), enfrenta desafios como desigualdade e pobreza.
Superar o legado colonial...
Acemoglu e Robinson sugerem que superar o legado colonial exige um processo gradual de reforma institucional, focado em fortalecer instituições inclusivas, combater a corrupção, investir em educação e empoderar a sociedade civil.
... exige compreender seu passado.
A compreensão das raízes históricas e o aprendizado com os erros do passado são cruciais para construir um futuro mais justo e próspero, adaptando as soluções às especificidades de cada país.
Valioso, mas não inédito.
Quer me parecer que o mérito dos autores não está na ideia em si, mas na forma como eles a desenvolveram e aprofundaram, contribuindo significativamente para a compreensão das raízes históricas da desigualdade econômica entre as nações.
Marcos J. G. Rambalducci - Economista, Professor da UTFPR.