O acelerado processo de desindustrialização ocorrido no último quarto de século, não é uma peculiaridade de Londrina, mas uma situação que afligiu toda a nação. 

Artigo de Edmar Bacha no jornal Valor Econômico deste domingo (21) faz uma importante reflexão sobre as causas deste encolhimento e entendendo as causas passamos a ter uma melhor compreensão de como reverter tal situação.

E uma maior participação da Industria na composição de nosso PIB é fundamental para impulsionar a produtividade, a inovação, o crescimento econômico sustentável e um maior nível de bem-estar social. 

Nossa indústria perdeu relevância ...

O artigo revela que entre 1995 e 2022 a participação da indústria na economia brasileira despencou de 14,5% do PIB para 9,3%. Se olharmos para Londrina, veremos que a queda foi proporcional, com a participação industrial passando de aproximadamente 24% para os atuais 16,2%.

... mais que em outros países...

Bacha observa que o processo de desindustrialização seria um fenômeno natural em países de renda alta, à medida que os serviços ganham maior peso. E isso realmente ocorreu, mas ao comparar com os países da OCDE, que possuem uma renda média três vezes maior que a nossa, a participação da indústria caiu menos de 4%.


... porque se tornou menos eficiente ...

Como a parcela percentual do emprego na indústria teve pouca alteração no período, a queda na participação da indústria no PIB nacional é explicada pela perda de produtividade do setor, que era 84% maior do que a média da economia, mas caiu para apenas 12% em 2022.


... diferente da agricultura ...

Mas enquanto a produtividade da indústria despencava, a da agricultura saltava de 22% para 94% acima da média da economia. À medida que a indústria estagnava, a agricultura se modernizava, ganhando produtividade e competitividade. Bacha questiona a razão para esse comportamento oposto.


... que compete exportando...

E vai encontrar explicação no fato de a agricultura ter mirado no mercado internacional e hoje concorre com as potências agrícolas mundiais, o que exigiu do setor, adotar e desenvolver tecnologias, enquanto a indústria limitou-se ao mercado interno, brigando por proteção à entrada de produtos estrangeiros.


... o que a obriga a ser competitiva.

Bacha conclui que, restrita ao pequeno mercado interno, pequeno em comparação com os padrões globais, a indústria não atinge a escala necessária para adotar tecnologias de ponta, nem enfrenta pressão para inovar, vendendo apenas devido ao mercado relativamente protegido.


Não mudaremos esta realidade...

Esta análise mostra que é correto o entendimento de que Londrina não conseguirá uma participação maior da Industria em seu PIB com base unicamente em crescimento orgânico – caracterizado pela expansão natural de nossas próprias empresas, de baixa tecnologia e voltadas para o mercado nacional.

... sem ajuda de fora...

É ingênuo pensar que, como o Barão de Münchhausen, de Rudolf Raspe, será possível se salvar da areia movediça puxando-se pelos próprios cabelos. Precisamos de uma alavanca - uma injeção de capital de R$ 21 bilhões ao longo dos próximos 15 anos, como escrevi na coluna de 19/06. 

... e que exigirá planejamento ...

É fundamental atrair indústrias de base tecnológica de nível mundial, que atendam a demanda nacional, mas que vendam também no mercado externo e que tenham complementaridade com a nossa indústria, de maneira a criar sinergias que as capacitem a atender outras empresas de nível mundial.

... e sob a batuta da sociedade.

Essa guinada na nossa matriz produtiva exige uma estratégia deliberada de atração destas indústrias, tendo em conta que é imprescindível o comprometimento formal do poder público, mas precisa ser liderada pela sociedade civil organizada.

Não é tarefa para uma ou duas gestões e não dá para ficar na dependência de quem estará sentado na cadeira de prefeito.

 

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, Professor da UTFPR.