Na coluna da semana passada (19), abordei a necessidade que tem Londrina de ter uma política proativa que garanta um modelo de neoindustrialização que permita equilibrar nossa matriz produtiva.

Um outro foco de atenção, dentro deste mesmo ideário deve ser o investimento em turismo. Matéria no caderno ‘Eu&’ do Valor econômico deste domingo (25), com o sugestivo título ‘A invenção de um destino turístico’, mostra como Curitiba , sem praias ou belezas naturais cria atrações para segurar turistas em trânsito. Se a Capital consegue, nos também conseguimos.

No entanto, alcançar este propósito precisa de foco, centrando a atenção em um único grande projeto, com potencial sinérgico capaz de desencadear uma avalanche de novos empreendimentos privados. Criar o ‘Maior parque urbano linear do Brasil’ seria este catalizador.

Uma taxonomia diferente ...

Sugiro uma classificação distinta daquela que divide a produção em Bens e Serviços. A melhor forma de classificar as atividades seria naquelas que são mais propensas a aumentar a riqueza (Industria, Turismo e Agro) e aquelas que são mais propensas a distribuir essa riqueza (Comercio e Serviços).   

... para nossa proporção áurea ...  

Uma matriz produtiva em que 2/3 estivesse voltada a atividades que fazem a riqueza circular em uma economia e 1/3 fosse de atividade que trazem dinheiro novo para esta economia é o equilíbrio necessário que permite geração e distribuição de riquezas em uma espiral ascendente.

.. onde turismo seja representativo, ...

Uma observação importante, e que vai no sentido oposto ao senso comum - embora o Agronegócio seja absolutamente relevante para nossa economia, a Agropecuária representa tão somente 2,5% de nosso PIB. Incrementar o turismo para que responda por 5 a 8% de nosso PIB é suficientemente ambicioso.

.. o que também está no Master Plan.

Reforçando a ideia de que não é preciso inventar a roda, ações voltadas ao incremento do turismo em nossa cidade já estão contempladas no documento que explicita a estratégia de desenvolvimento para Londrina até 2040.A sugestão aqui é de como operacionalizar ações voltadas a tornar o turismo uma realidade.    

Primeiro, defina um grande projeto ...

Não é produtivo dispensar energia em vários projetos esparsos. É preciso centrar atenção em um único projeto que tenha efeito multiplicador de investimentos, e ser capaz de atender vários aspectos da vida para o maior número de pessoas possível.

... de alcance abrangente...

Com base em nossas vantagens, que envolva lazer, preservação do meio ambiente, resiliência a eventos climáticos extremos, que seja uma atração turística relevante, que suporte eventos culturais e desportivos, que catalise todo tipo de empreendimentos residenciais e comerciais, e que seja uma válvula de escape para a política de adensamento populacional. 

... como o Parque Linear do Igapó.

Uma proposta que atende a estas premissas é o projeto de criação do maior parque linear urbano do Brasil, quiçá da América do Sul, unindo de forma contigua os lagos Igapó I, II, II e IV, com o parque Arthur Thomas e o Jardim botânico. 

O IPPUL avançou nestes estudos...

Esta ideia já vem sendo estudada pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina (IPPUL) e o caderno ‘Parques Lineares de Londrina’ está disponível e pode ser conferido pelo link: https://issuu.com/ippuldp/docs/parques_lineares_de_londrina

.... mas é preciso ser mais ambicioso.

Embora as propostas ali contidas possam ser consideradas ‘pé no chão’, se a pretensão é impactar positivamente a cidade, será necessária uma dose maior de audácia. É preciso pensar em pontes e viadutos que tragam fluidez ao trânsito e não disputem espaços com as pessoas.

Segundo, defina-o como prioritário.

É preciso ter uma equipe técnica multidisciplinar que esteja exclusivamente dedicada ao estudo, elaboração dos projetos e captação de recursos. Londrina está cheia de boas ideias que ocupam as páginas de jornal por duas semanas e depois desaparecem.   

Terceiro, o engajamento da sociedade.

Um projeto desta magnitude não pode ser visto como uma política de governo e sim como algo que transcende o período de cada mandato de prefeito e realizado em etapas. A única forma de garantir sua continuidade é ele ser encampado pelo conjunto da sociedade.

Com comunicação e transparência, essa ideia pode se tornar uma realidade.


Dr. Marcos J. G. Rambalducci, Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.