Semana passada, a cidade de Kazan, na Rússia, abrigou a 16ª cúpula dos Brics, e um tema já recorrente voltou à baila – a criação de uma moeda comum como alternativa ao dólar para o comércio entre os países do bloco.
Por trás da ideia, além da possibilidade de aumento no volume de trocas comerciais e fortalecimento dos laços econômicos, a medida reduziria a influência econômica dos EUA — algo de especial interesse para a Rússia e a China.
A libra esterlina ...
Até a 1ª Guerra Mundial, a libra esterlina, moeda britânica, era a moeda de reserva mundial, ancorada no padrão ouro, ou seja, possuía uma garantia de valor respaldada por uma quantidade específica de ouro, conferindo-lhe estabilidade e credibilidade internacional.
... e a língua francesa ...
Se a libra esterlina era a moeda do comercio mundial, o francês era o idioma do comércio internacional, especialmente durante o período do Iluminismo e da Revolução Francesa, amplamente utilizado em diplomacia, comércio e cultura.
... foram substituídos pelo dólar ...
A 2ª Guerra Mundial devastou a economia do Reino Unido, debilitando sua moeda, mas trouxe a ascensão dos Estados Unidos como potência econômica mundial e, especialmente a partir do Acordo de Bretton Woods (1944), o dólar americano passou a ocupar o lugar da libra esterlina como moeda de reserva global.
... e pela língua inglesa ...
A adoção do dólar como moeda do comércio internacional teve um impacto direto na consolidação do inglês como idioma principal do comércio global, substituindo o francês. O papel central do dólar e a influência cultural dos EUA impulsionaram essa transição linguística.
... como sinal da hegemonia dos EUA.
O dólar como moeda do comércio internacional concede aos Estados Unidos influência econômica, política e geopolítica, permitindo que eles usem o sistema financeiro como uma ferramenta de política externa, com capacidade de impor sanções, influenciar condições econômicas globais e financiar sua própria economia.
Um bloco de emergentes ...
O Brics, acrônimo para (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) mas agora contando com mais 5 integrantes – Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Irã, buscam sair da influência dos EUA a partir da criação de uma moeda própria para realizar suas transações.
... que querem deixar os grilhões ...
A criação desta moeda única reduziria a dependência do dólar, facilitando o comércio entre os países membros e diminuindo custos, fortaleceria o poder de negociação do bloco no cenário internacional, estimularia a integração econômica e contribuiria para a formação de um novo polo econômico global.
... se afastando do domínio americano.
Este novo sistema de pagamentos permitiria que os países membros realizassem pagamentos entre si sem precisar do SWIFT, um sistema global de mensagens financeiras, que embora não tenha um controlador definido, sofre forte influência dos EUA, e é utilizado como ferramenta para aplicar sanções econômicas a países desafetos.
As dificuldades são grandes ...
Embora possa se constituir em uma ferramenta poderosa a criação de uma moeda única enfrenta desafios significativos incluindo diferenças econômicas e políticas entre os países membros, falta de infraestrutura financeira integrada, volatilidade cambial, e preocupações com possível perda de controle sobre políticas monetárias nacionais.
..., mas pode resultar em ganhos.
De qualquer forma, a defesa de uma moeda única pode ser uma boa estratégia do Brasil para reposicionar-se no cenário econômico global e pressionar os EUA por melhores condições comerciais.
Parafraseando John Dulles, ex-secretário de estado dos EUA - países não tem amigos, países tem interesses comuns.
Marcos J. G. Rambalducci - Economista, Professor da UTFPR.