Olá, meus caros. Que prazer é retomar nossa coluna semanal abordando temas de economia. Hoje procuro jogar um pouco de luz sobre a decisão tomada na última semana pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central, que decidiu manter a taxa básica de juros, a SELIC, em 10,5% ao ano, que causa muito desconforto ao setor privado. Essa decisão foi unânime e alinhada com os diretores indicados pelo presidente Lula. No entanto, as explicações para manter essa taxa tão alta não são claras, especialmente quando se refere às contas públicas.
O problema é que não deixar claro o que leva a tais decisões permite que discursos inflamados e populistas utilizem informações econômicas distorcidas para ganhar apoio e desenvolver políticas públicas baseadas mais em retórica do que em análises econômicas sólidas.
Então vamos lá. Basicamente, o Banco Central tem o dever de controlar a inflação, seguindo uma meta de 3% para 2024 e 2025, meta esta, estabelecida pelo próprio governo federal. Para isso, o Banco Central usa várias ferramentas, inclusive ajustar as taxas de juros. Separe esta informação.
Um segundo ponto importante é que tudo consumido foi produzido previamente; não se consome o que não existe, e o que é produzido é consumido por dois agentes: o setor público (governo) e o setor privado (famílias e empresas). Os dois agentes, público e privado, consomem do mesmo "prato", que contém tudo o que foi produzido. Se um consome mais, falta para o outro, levando a uma disputa. Essa disputa eleva os preços, o que caracteriza inflação e para combatê-la é preciso tirar o ímpeto de consumo de uma das partes.
O Banco Central (BC) não pode intervir nos gastos governamentais, não cabe a ele dizer quanto o governo pode ou deve consumir, mas pode desestimular o consumo privado aumentando a taxa de juros. Juros mais altos inibem os investimentos produtivos das empresas e o consumo das pessoas, deixando a porta aberta para o governo consumir sem causar inflação.
Portanto, dizer que a culpa é do Banco Central por manter juros altos é desviar do real problema, que é o excesso de gastos e a ineficiência do setor público. Além disso, críticas ao Banco Central e ao mercado muitas vezes miram em um público que não entende bem de economia, usando isso como tática para ganhar apoio.
Aqui não busco analisar se são corretos ou não os gastos do governo, se ele deve abrir mão de gastar para permitir que o setor privado tenha acesso a maior consumo ou não. A ideia aqui é clarear que os recursos são limitados e que é preciso decidir sobre como devem ser utilizados, lembrando que não dá para agradar gregos e troianos ao mesmo tempo.
E entendo que é importante simplificar a economia não só no discurso, mas também para capacitar as pessoas a participarem ativamente das decisões econômicas que impactam suas vidas e a sociedade como um todo.Pensa nisso. Te vejo na próxima coluna e até lá se cuida.
Dr. Marcos J. G. Rambalducci, Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.