Olá, meus caros. O conceito de ‘risco país’ é um termo frequentemente mencionado em discussões econômicas e financeiras. A agência de classificação de risco Moody’s anunciou na semana passada (1) uma melhora na perspectiva do risco Brasil.
Mas não é trivial entender que tais avaliações desempenham um papel crucial na determinação do custo de financiamento de um país e influenciam uma série de fatores econômicos que afetam diretamente a nós pobres mortais. A coluna de hoje busca desmistificar este conceito de risco país e mostrar como ele nos afeta.
O risco país refere-se à probabilidade de que a condução de suas políticas, econômicas coloque em risco sua possibilidade de cumprir suas obrigações financeiras. E da mesma forma que acontece conosco se deixamos de pagar nossas contas, a consequência é uma maior dificuldade em obter empréstimos, ou seja, temos que pagar mais juros por sermos maus pagadores.
Se o governo precisa pagar juros mais altos para tomar empréstimos, todos os demais juros também aumentam. E juros altos significa maior custo para as empresas, o que as leva a reduzir investimentos, limitando a expansão do negócio e por consequência, afetando a criação de novos empregos.
Além de aumentar os custos para as empresas, juros altos também significará crédito mais caro para nós consumidores, dificultando compras maiores como casas e carros, desaquecendo mais ainda a economia com a desaceleração do mercado imobiliário e da indústria. Nada bom, não é? Viu como a avaliação de risco Brasil nos afeta diretamente?
Bom, e quem avalia estes riscos? São as agências de classificação de risco que medem a capacidade que um país tem de pagar o que pega emprestado no mercado. São três as principais agências de risco: Moody’s, Fitch e Standard & Poor’s.
Cada agência tem sua própria classificação de riscos. No caso da Moody’s, ela utiliza uma escala que vai de Aaa, indicando a menor percepção de risco, até C, que indica um país praticamente em moratória. As notas são divididas em categorias - de Aaa até Baa3, é chamado grau de investimento, que significa um país confiável para se investir, e de Ba1 até C, é um grau especulativo, que significa um país de alto risco para investimentos.
E um dos indicadores utilizados para esta análise é saber o quanto o país acumula em dívidas. E o Brasil acumula uma dívida impressionante. Dados do Banco Central mostram que a dívida Bruta do Governo em fevereiro era de R$ 8,3 trilhões, o que significa que, cada 1% de variação nos juros desta dívida representa R$ 83 bilhões, o que equivale a 3,5 vezes o PIB de Londrina de 2021.
Por essa e outras razões a Moody’s atribui a nós a nota Ba2, ou seja, somos uma economia considerada como pouco confiável, ou seja grau especulativo. Na semana passada ela manteve esta nota mas deu um viés positivo, sinalizando que poderá melhor esta nota futuramente, talvez para Ba1, que também ainda estará no campo de grau especulativo.
Para retomar uma nota de grau de investimento, que nos ajude a reduzir as taxas de juros e torne possível melhorar as condições de crescimento do país será preciso adotar medidas que levem a uma trajetória de diminuição desta dívida.
Enfim, sem buscar o equilíbrio fiscal, adequando os gastos à arrecadação, certamente será mais difícil obter uma nota que os coloque como alvos atraentes para novos investimentos.
Pensa nisso. Te vejo na próxima coluna e até lá se cuida.
Dr. Marcos J. G. Rambalducci, Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.