https://radio.uel.br/coluna/inflacao-x-salario/2023/05/08
Olá, meus caros.
Em Londrina, no mês de abril, um trabalhador que ganhe salário-mínimo precisou despender 46,6% de sua jornada de trabalho para adquirir a alimentação mínima necessária para se manter durante um mês.
Os produtos que compõe a cesta básica de alimentos apresentaram no mês passado uma elevação de 8,9%, um percentual elevado e que contrasta com o aumento de 1,4% aplicado ao salário-mínimo com vigência a partir de maio.
Uma análise da evolução do salário-mínimo em relação ao preço dos alimentos mostra a perda de poder de compra do trabalhador e isto merece uma análise.
Os preços dos hortifrutis foram os que trouxeram maior impacto na composição dos preços da cesta básica em abril, no caso do tomate em função do fim da safra de verão, mas também pela incidência de chuvas que interrompeu a colheita especialmente da batata.
Dos 13 produtos que compõe a cesta básica de alimentos, 9 apresentaram elevação de preços sendo os produtos com maior alta a batata (46,1%), o tomate (42,1%) e a banana (12,5%) na comparação com os preços praticados em março.
Nestes 4 primeiros meses de 2023, o preço da cesta básica subiu em janeiro e abril e caiu em fevereiro e março. O resultado deste período é uma elevação de 3,1% no preço da cesta básica para uma inflação oficial de 2,6%, ou seja, alguns produtos tiveram queda de preço enquanto outros, no caso, os alimentos subiram.
Quanto mais baixa a renda da família maior é o comprometimento percentual dos gastos com alimentação o que significa que foram os mais pobres aqueles que mais sofreram com este aumento.
E vale lembrar que são mais de 35% dos trabalhadores formais que ganham até um salário-mínimo e outros 31% que ganham entre 1 e 2 salários o que representa mais de 65 milhões de trabalhadores.
Comparando com o ano de 2017 que apresentou a melhor relação entre preço da cesta básica e o salário-mínimo, a perda é de exatos 25%, ou seja, para se igualar a 2017 o salário-mínimo deveria ser de R$ 1.627,50.
Pelos cálculos do DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, o salário-mínimo ideal deveria ser de R$ 6.676,11 para atender uma família de 4 pessoas em suas necessidades de alimento, moradia, vestuário, educação, higiene, transporte, lazer e previdência.
Embora fosse o ideal este valor, 5 vezes maior que o vigente, é impraticável simplesmente porque o aumento do poder de compra deve vir acompanhado do aumento de disponibilidade de bens e serviços. Caso contrário, o único que provocará será inflação.
É INEGÁVEL QUE salário-mínimo está muito aquém do que seria desejável para atender as necessidades de uma família e a alta no preço dos alimentos tem impactado sobremaneira a renda dos mais pobres.
Mas a forma sustentável de reverter esta situação é por meio do aumento da produtividade do trabalho. E isso se consegue com educação e investimento em tecnologia.
Não é factível pensar que a solução possa se dar por uma canetada, qualquer que seja o partido que esteja no poder, e muito menos que seja alcançado em curto espaço de tempo. Não existe país pobre que pague salários altos. Salário só pode aumentar à medida que aumenta a oferta de bens e serviços. Um elefante não cabe dentro de uma caixa de sapatos.
Pensa nisso. Te venho na próxima coluna e até se cuida.
Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.