16 de outubro de 2023

2023/10/16

Olá, meus caros. A importância da participação da força feminina no mercado de trabalho foi se evidenciando ao longo da história moderna, notadamente quando elas precisaram assumir a produção durante períodos de guerra. A medida que as mulheres galgam postos na hierarquia das empresas fica patente que trazem pontos de vista diferentes que contribuem para a inovação e o crescimento econômico e as decisões tendem a ser mais equitativas e bem fundamentadas.

A despeito da inegável importância da participação feminina no mercado de trabalho, em nosso país, os homens recebem salários 22% maiores que as mulheres em mesmas funções. Explicar as razões por traz desta disparidade deu a americana, Claudia Goldin, professora de Harvard o Prêmio Nobel de Economia de 2023. É sobre sua pesquisa que falo na coluna de hoje.

E vale lembrar que a disparidade salarial em razão do gênero não é fenômeno brasileiro não. Cerca de 2,4 bilhões de mulheres em idade ativa não têm oportunidades econômicas iguais às dos homens e 178 países mantêm barreiras legais que impedem sua participação econômica plena, segundo o relatório ‘Mulheres, Empresas e o Direito’ de 2022, do Banco Mundial.

A economista norte-americana Claudia Goldin enfrentou a complexidade deste tema reunindo mais de 200 anos de dados em uma obra que capta as razões das desigualdades de gênero no mundo profissional, o que a levou, na semana passada (9), a ser reconhecida com o Prêmio Nobel de Economia de 2023.

E parece que ela trouxe o obvio. Talvez por isso esta pesquisa seja tão relevante. A natureza atribuiu à mulher a responsabilidade pela concepção e gestação de novas vidas e tal responsabilidade torna as mulheres menos disponíveis e, segundo Goldin, por esta razão acabam recebendo menos de seus empregadores e tendo suas carreiras atrasadas.

Ela identificou que a diferença salarial entre homens e mulheres aumenta de forma mais significativa após o nascimento do primeiro filho, e que esse evento também muda como elas guiam suas carreiras.

Há a tendência de quem é mãe de reduzir sua jornada de trabalho, tirar licença após o nascimento dos filhos ou mudar para empregos com menos demanda e maior flexibilidade, o que acarreta o aumento da disparidade salarial entre os gêneros, que sobre de 8% para 27% depois da chegada do primeiro filho.

Devido à importância dada pelos empregadores à disponibilidade para o trabalho, aqueles que possuem essa flexibilidade são remunerados de forma desproporcional em relação àqueles que não conseguem trabalhar fora do horário comercial.

E por óbvio também que os homens estão muito mais disponíveis para encarar longas jornadas no trabalho, ao passo que as mulheres estão muito mais comprometidas para se dedicar a tarefas do lar, afirma Goldin, o que vai implicar no comprometimento da carreira para a mulher.

A profunda diferença salarial é decorrência da necessidade que tem as mulheres de optar por trabalhos mais flexíveis dentro da profissão.

Mas junto com a explicitação do que leva a esta distorção vem também a solução. É preciso a formulação de políticas ou medidas que facilitem uma divisão mais equitativa das responsabilidades entre os membros de um casal, não imputando à mulher o quinhão mais pesado.

E é premente repensar as estruturas de carreira e as horas de trabalho e implementar práticas que não penalizem, mas valorizem a flexibilidade, mesmo porque não nos falta tecnologia para tal.

Pensa nisso, te vejo na próxima coluna e até lá se cuida.


Dr. Marcos J. G. Rambalducci, Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.