26 de agosto de 2024

2024/08/26

Olá, meus caros. A Day Week Global, uma organização sem fins lucrativos, que estuda a redução da jornada de trabalho, em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV), divulgou no início deste mês o relatório de um teste piloto realizado no Brasil que explorou a viabilidade da semana de trabalho de 4 dias. O relatório completo está disponível no site da instituição que vou deixar na nossa página, para quem desejar se aprofundar nas informações.

O relatório apresenta os resultados das 19 empresas que concluíram o programa, realizado entre janeiro e junho de 2024. No total, 252 colaboradores participaram, adotando uma jornada de trabalho estruturada com 100% do salário, 80% da carga horária e a meta de manter 100% da produtividade.

Muito deste estudo se deve a preocupação com a perda de empregos devido ao avanço tecnológico exponencial que vivemos, pois a automação de tarefas repetitivas e complexas ameaça substituir milhões de postos de trabalho, especialmente nos setores de manufatura, serviços e transporte.

Preocupações neste sentido não são novidade, como foi o caso do movimento ludista na Revolução Industrial, no início do século XIX, que se opunha à automação das fábricas, refletindo o medo de que novas tecnologias viessem a substituir postos de trabalho, criando uma onda de desempregados.


Acontece que o Nosso modelo econômico não suporta altas taxas de desemprego, pois isso reduz o poder de compra e enfraquece a demanda por bens e serviços, desencadeando uma retração na produção e nos investimentos, e além de renda, as pessoas precisam de tempo disponível para consumir o que é produzido. 

A redução da jornada de trabalho, preservando a renda, é condição essencial para evitar que a automação e o aumento da produtividade provoquem um colapso econômico, garantindo que o sistema capitalista, dependente do consumo, continue a se sustentar.  

Apesar do reconhecimento desse fato, a Day Week Global busca superar a resistência natural dos empregadores e demonstrar que a redução da jornada de trabalho não compromete seus resultados, e pela 1ª  primeira vez na América Latina, realizou um experimento de semana de 4 dias em empresas de São Paulo, Campinas, Rio, BH e Curitiba.

E os resultados mostram ganhos para as empresas. Embora o relatório destaque que esses aumentos não podem ser atribuídos exclusivamente à redução da jornada de trabalho, 72,7% das empresas relataram crescimento na receita no primeiro semestre de 2024 em comparação ao mesmo período de 2023, e 63,6% observaram aumento nos lucros.


Por seu lado, os colaboradores avaliaram sua produtividade e engajamento em 8,4 e 8,5, respectivamente, numa escala de 1 a 10. O comprometimento com a empresa foi classificado em 9,2, refletindo alta lealdade. O bem-estar e a satisfação no trabalho foram avaliados em 8,4 e 8,5, respectivamente.

E veja, dentre as 19 empresas participantes, seis adotaram oficialmente a semana de quatro dias, enquanto outras seis decidiram retornar à jornada de trabalho anterior. Cinco companhias estenderão o período de testes até o final do ano, sendo que uma delas expandirá a medida para mais departamentos.


O movimento de diminuição da jornada de trabalho é irreversível, mas deverá ocorrer de forma gradativa até que se torne lei. Essa transição progressiva permitirá que empresas e trabalhadores se adaptem às mudanças, assegurando que a redução seja implementada de maneira eficaz e sustentável.

Disso resulta uma constatação: a redução da jornada de trabalho é uma consequência natural do aumento da produtividade impulsionado pela tecnologia e a sobrevivência do sistema exige que as pessoas tenham renda e tempo para consumir essa maior produção. Portanto a preocupação não deve estar na falta de empregos, mas sim na preparação para atender às novas exigências desses postos de trabalho. 

Pensa nisso. Te vejo na próxima coluna e até lá se cuida. 


Dr. Marcos J. G. Rambalducci, Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.