28 de outubro de 2024

2024/10/28

Olá, meus caros. Semana passada, a cidade de Kazan, na Rússia, abrigou a 16ª cúpula dos Brics, e um tema já recorrente voltou à baila – a criação de uma moeda comum como alternativa ao dólar para o comércio entre os países do bloco.

Por trás da ideia, além da possibilidade de aumento no volume de trocas comerciais e fortalecimento dos laços econômicos, a medida reduziria a influência econômica dos EUA — algo de especial interesse para a Rússia e a China.

Mas voltemos um pouco na história para entendermos como o dólar se tornou a moeda hegemônica no comercio internacional. Até a 1ª Guerra Mundial, a libra esterlina, moeda britânica, era a moeda de reserva mundial, ancorada no padrão ouro, ou seja, possuía uma garantia de valor respaldada por uma quantidade específica de ouro, o que lhe conferia estabilidade e credibilidade internacional.

E se a libra esterlina era a moeda do comercio mundial, o francês era o idioma dominante, especialmente durante o período do Iluminismo e da Revolução Francesa, amplamente utilizado em diplomacia, comércio e cultura. Quando eu entrei no ginasial, no colégio de aplicação, aqui em Londrina, ainda era o francês a opção de língua estrangeira oferecida.  

Mas a 2ª Guerra Mundial devastou a economia do Reino Unido, debilitando sua moeda, e trazendo a ascensão dos Estados Unidos como potência econômica mundial e, especialmente a partir do Acordo de Bretton Woods (1944), o dólar americano passou a ocupar o lugar da libra esterlina como moeda de reserva global.

A adoção do dólar como moeda do comércio internacional teve um impacto direto na consolidação do inglês como idioma principal do comércio global, substituindo o francês. O papel central do dólar e a influência cultural dos EUA impulsionaram essa transição linguística.

Acontece que, o dólar como moeda do comércio internacional concede aos Estados Unidos uma influência econômica, política e geopolítica, que lhe permite usar o sistema financeiro como uma ferramenta de política externa, com capacidade de impor sanções,  influenciar condições econômicas globais e financiar sua própria economia.

Bom, o Brics, acrônimo para (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) foi formalizado como um bloco econômico em 2009 e agora conta com mais 5 integrantes – Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Irã, que buscam ganhar força como potências emergentes e sair da influência dos EUA. A criação de uma moeda própria para realizar suas transações é parte desta iniciativa.

A criação desta moeda única reduziria a dependência do dólar, facilitando o comércio entre os países membros e diminuindo custos, fortaleceria o poder de negociação do bloco no cenário internacional, estimularia a integração econômica e contribuiria para a formação de um novo polo econômico global.

Embora possa se constituir em uma ferramenta poderosa a criação de uma moeda única enfrenta desafios significativos incluindo diferenças econômicas e políticas entre os países membros, falta de infraestrutura financeira integrada, volatilidade cambial, e preocupações com possível perda de controle sobre políticas monetárias nacionais.

Sendo possível ou não, vejo a defesa de uma moeda única pelo BRICS como uma estratégia interessante para o Brasil pressionar os EUA a conceder maiores benefícios econômicos com o objetivo de evitar o fortalecimento desta união. Imagino que os demais países também levem isso em consideração.

Pensa nisso. te vejo na próxima coluna e até lá, se cuida.

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, Professor da UTFPR.